A democracia brasileira é neófita, jovem demais em termos históricos. Até há pouco experimentávamos uma Ditadura Militar e historicamente convivemos com modelos políticos que sempre primaram por alijar a participação popular, por serem excludentes, por manterem a “ordem” aristocrática e elitista de uma sociedade estratificada, basicamente por renda ou por genealogia, por origem de nascimento, por origem de família, ou, como se diz no interior, “por sua graça”.
Baturité não fugiu disso. Traz ainda em seu cotidiano da vida pública hábitos absurdamente antiquados, em absoluto descompasso com os princípios da administração pública moderna, os quais felizmente começam a ser exigidos pela própria população, não mais apenas por tecnocratas, pois uma das virtudes da democracia é potencializar as expectativas dos cidadãos quanto à prestação dos serviços públicos, e, para que os serviços públicos sejam bem prestados os recursos, como também o capital humano, precisam ser bem geridos. Faz-se necessário, portanto, corajosamente romper, com esse “estado de coisas” anacrônico, a fim de que se possa dar início a construção de um porvir melhor, pois perdemos décadas por falta de um projeto de Município bem definido e que dialogasse com a nossa real vocação econômica.
Afinal de contas, qual é nossa vocação econômica? O Poder Público conceder aumento ao funcionalismo para que esse consuma no comércio local?! Parece-me míope e estreito por demais. E agravou severamente as contas do Município. Embora os escândalos de corrupção representem maior problema. Melhor, os silêncios quanto a eles representem maior problema. Os dois, na verdade. Não adianta queremos ser Nova York. Ou Paris. Ou Pecém. Ou Jericoacoara. Ou Veneza. Ou Maracanaú. Precisamos saber, precisamos descobrir o que em Baturité pode tornar rentável de maneira sustentável para a economia local e que permita aumentar a atratividade do município para empreendedores externos e como isso pode ser coordenado por meio de decisões tomadas pela Prefeitura Municipal, por convergência de políticas públicas. Há saída para Baturité. Desde que de longo prazo. O compromisso precisará ser com o futuro.
O primeiro passo? O primeiro passo a ser dado deverá ser romper com o cinismo, aqui empregado nos termos que o filósofo alemão Peter Sloterdijk expressa nesta passagem, “Eles sabem muito bem o que estão fazendo; mas, mesmo assim, o fazem.” – é o que chamei no título do texto do cinismo “deles”, a classe política tradicional de Baturité. E por que as aspas foram usadas no pronome ‘deles’? Porque sempre nos referimos “como se” a responsabilidade por “Baturité estar como está” fosse única e exclusivamente dos maus políticos e gestores, como se a nós não houvesse responsabilidade alguma, seja pela omissão, seja pela ação, pelo apoio equivocado, pelo voto não consciente, mas motivado por interesses outros, que não o compromisso público – o que representa o nosso cinismo. O primeiro passo é romper com o cinismo, assumindo que nos prostramos durante muito tempo a atitude dos covardes: o conformismo. E pior, o conformismo com a mediocridade.
Autor: Ítalo Holanda
Imagens: Internet
TV MACIÇO.
Postado por: Victero Bruno