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História da Comunidade Fernandes - Aldeia Indígena Kanindé de Aratuba.

Historia e cultura em Aratuba.
No batente de uma Artesã Creusa e seu Croché.
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Dona Creuza, foi uma das entrevistadas a reforçarem a fala de que belas peças como a do seu artesanato   tinham sido aprendidas com Dona Albertina, que se tornou, por sua vez,  um verdadeiro mito das terras do povo kanindé de Aratuba e objeto de pesquisa para aquelas e aqueles mais curiosos.

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Foi com alegria que Dona Creuza nos recepcionou em frente de sua casa ou, como dizem outros, no seu batente, dizendo que “aquilo que soubesse responder responderia”. Assim aconteceu. Sentada num banquinho, enquanto respondia as perguntas da equipe de entrevistadores da turma, ela até parecia uma contadora de histórias, falando de meados dos anos 50, época que seus olhos não presenciaram, mas que é conhecimento adquirido desde os seus familiares

Rajado Local de Partida

Como ponto de partida, fomos ao Rajado, local no qual os Kanindés de Aratuba realizam o plantio de subsistência. Tivemos como companheiros nessa empreitada a vitalidade e alegria do senhor Bernardo (o “sinhô”),e de José Marciel que , além de fazer “de um tudo”, é também um guerreiro versado na arte da caça.

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Ambos agricultores e fortes na labuta, aquelas e aqueles que conseguiam alcançar os passos apressados desses senhores, que rápido traspassavam os altos e baixos das veredas daquele caminho, podiam ouvi-los falando de reminiscências de um tempo em que muitos dos que hoje estão idosos faziam uma comitiva, semelhante a que estávamos fazendo, todos enfileiradinhos, indo ao roçado. As colocações dos entrevistados pareciam combinadas, já que se encaixavam umas as outras, construindo conceitos em comum.

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Afinal, quais são os aspectos que hoje caracterizam e que devem ser preservados, sob o risco de comprometer a identidade de um índio kanindé de Aratuba? Melhor, como lidar com a rebeldia própria do ser jovem em tempos cuja a juventude indígena atual se encontra tão atravessada pelos conceitos e modelos da globalização? O que pode ser conservada da experiência e sabedoria dos antepassados, sem que isso se transforme em imposição de uma geração Kanindé sobre a outra?

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Essas questões ficaram em pauta durante todo o dia. Em geral, as falas se concentraram na reflexão de que as e os mais jovens precisam entender que são descendentes de agricultores. Esses mais velhos expressaram o medo deles de que aquelas terras em pouco tempo deixassem de ser propriedade de suas famílias, justamente por que iriam falecer e não haviam não percebiam muitos  interessados em continuar o trabalho. Creio que aquele silêncio, que imperou em seguida, foi ensurdecedor no íntimo da turma.

A Gruta e a bela história de Dona Rita.

Uma gruta pequenina de Nossa Senhora de Aparecida que, na curva da estrada, materializa o agradecimento pelo filho de dona Rita, só recentemente falecido, mas antes recuperado de um acidente cuja morte parecia certa;

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“Dona Rita aqui nos conta um pouco de sua história

Fala também da Gruta um símbolo de fé e glória

Feita depois de uma promessa que sua família fez

Com a promessa cumprida a Gruta agora tem sua vez!”

*Valdilane Santos Alexandre


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Memórias guardadas num Caçuá.

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Poucos teriam a sabedoria e humildade do Sr. Raimundo Terto, 45 anos, artesão e agricultor, de reconhecer a existência real de seres como o Curupira, que na boca das e dos mais jovens é difundido com o rótulo perjorativo de ser apenas uma lenda, uma invenção fantasiosa

Sr. Raimundo nos pede ainda que o tratemos especialmente como agricultor. Admite que seu artesanato não tem muito valor naquele lugar, “talvez apenas na cidade” é o que diz.

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Não disse que os estudos são menos importantes. Contudo, ressalta que o ensino dado a essa juventude na escola não tem garantido a ela o emprego nem as melhorias financeiras com as quais sua esposa e ele aguardam com ansiedade. Coloca que ainda mais sem o apego com a terra, com a agricultura, ele visualiza a triste profecia dessa juventude tendo que pagar caro no comércio para obter a sua subsistência.

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Posto de Saúde da Comunidade de Fernandes – Aratuba.

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Suzanete, agente de saúde, residente bem mais adiante da escola rural, mesmo não estando presente na entrevista anterior pareceu ouvir as palavras da agente administrativa e fez coro àquelas colocações. Acrescentou que não se via morando em outro lugar, principalmente numa cidade grande como Fortaleza.

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 Essa afirmativa certamente conversou com os sentimentos daquelas e daqueles jovens com relação ao pertencimento que sentiam à comunidade do Sítio Fernandes. Poucos, e geralmente aquelas e aqueles mais velhos da turma por questão de trabalho, é que disseram que já moraram algum tempo fora da comunidade e que sem muitas oportunidades e pela forte saudade resolveram voltar ao chão aratubense.

Museu Indígena Kanindé de Aratuba.

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Fomos recebidos no Museu indígena por Dona Tereza, esposa do Cacique Sotero, que no momento não estava presente na comunidade. Ela gentilmente nos permitiu entrar para conhecer mos as peças e artefatos guardados no local, além de nos falar um pouco sobre a importância do lugal para a afirmação da identidade Kanindé.

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No Museu podemos encontrar um pouco de tudo desde panela de barro, bebidas como o Mocororó, chapéus de palha, cordões, artefatos de pena, animais mumificados até algumas armas utilizadas pelos ancentrais e etc; Segundo Dona Tereza o Museu é importante para conhecer a história do povo de Aratuba.

As Memórias da Capela de São José.

Dona Alzira, uma incansável contadora de histórias, capaz de passar dias, como disse, arrancando lágrimas e sorrisos do baú de suas memórias, sem notar que é pouca saliva para tanta coisa a dizer.

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Há muito o que se contar realmente, dona Alzira. Começo pelo início e mesmo assim tenho dúvidas se não estou pregando uma peça em mim mesmo, encantado com o toque do vento que bem parece a voz dos ancestrais do Sítio Fernandes representados em tua voz.

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O tempo torna esses sussurros cada vez mais inaudíveis e distantes. O fio da vida desses ancestrais deslizando além das ladeiras como uma pipa levada ao vento. Como crianças seguimos ao encontro deles em disparada. É preciso caminhar.Segundo a simpática senhora a Capela existe desde a década de cinquenta se tornando símbolo de devoção ao padroeiro São José.

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Dona Isaura Rodovida, Vida que Segue.

Dona Isaura ainda nos cedeu uma nova sessão de entrevistas no mesmo dia. O cuidado que tínhamos era de não cansá-la com tantas perguntas, mas, surpreendentemente, quem estivesse presente veria quão disposta ela se mostrou a mais aquela audiência.

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Muitas transformações se processaram frente aos olhos dessa parteira e rezadeira. Por isso, estávamos sedentos de acessarmos mais um pouco das imagens ocultas em sua memória. A lucidez de suas recordações nos colocou diante da  resistência que ela como agricultora disse também ter sido obrigada a desenvolver, assim como os demais de sua juventude, para superar os tempos de escassez.

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Labutando com a terra, vivia-se um certo distanciamento de tudo. Vemos hoje no semblante de Dona Isaura sua satisfação por poder listar tantos bens hoje conquistados pelo Sítio Fernandes, tais como energia elétrica, água encanada, dentre outros, que por muito tempo, certamente, foram só esperanças depositadas sobre sucessivos governos, escondidos estes atrás e bem além das serras.

A estrada rodoviária que, ali a diante, passa cortando a região é como o símbolo da ligação que possibilitou as transformações infraestruturais, razão que fazem brilhar os olhos de D. Isaura.

Parteira da Identidade.

Dona Isaura, parteira e rezadeira, fora os mesmos braços que trouxeram à luz, acolheram e abençoaram seguidas gerações desse povo. Com a mesma simplicidade, ela nos ilumina dizendo que todo mundo é reponsável por escolher o rumo que quer seguir e, assim como ela se reconhece, se se quer proclamar que é indígena “se diz e pronto”. Isso para ela não era tão importante. O que seria essencial, então?

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O curto espaço de tempo dessa conversa não nos permitiu elaborar as perguntas certas e seguimos o restante do itinerário de visitas ainda sedentos de aproveitarmos mais dessa fonte tão preciosa.Vale corrigir a percepção das e dos jovens durante a visita que fizemos também à dona Isaura, por exemplo. Certamente não estávamos ali com o propósito de sabermos das opiniões e referências dessa idosa, 84 anos, senão pela busca de uma raiz na qual as histórias individuais se entrecruzam e mostram a semente da identidade do povo Kanindé de Aratuba.

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O Artesanato do Pajé Maciel.

Dar tempo e atenção a pessoas idosas como o senhor Manuel, 84 anos, pajé da comunidade do Sítio Fernandes, é uma tarefa que exige coragem.

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Para contemplarmos o vigor da fala do sr. Manuel há literal e simbolicamente que se enfrentar uma imensa ladeira. Alcançar o cume onde se encontra sua residência exige muito fôlego e disposição física bem como para chegarmos leves e permeáveis à memória desse senhor octagenário, é aconselhado que se largue os preconceitos pelo caminho.

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            Suas mãos ainda guardam a inteligência de quem soube vencer a situação de miséria de seu tempo. Ninguém diria que aquele senhor sentado e ouvindo seu radinho à porta de casa, seja um artesão capaz de esculpir utensílios de madeira tão impressionantes mesmo com o andar cansado, apoiado em sua muleta e com a pouca visão.

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       Explicou a nós do projeto, que formávamos a sua frente uma turma de entrevistadores e dos quais, como disse, só avistava sombras sem rosto, que em seu tempo o estudo era menos importante.

            Destaca, com uma voz firme e bem humorada, que muitos dos proprietários, que o exploraram e enriqueceram à custa do suor do seu rosto, não foram agraciados com sua resistência e longevidade como indígena, cujo mérito é conhecido “mundo a fora”, como disse ao projeto.

Escola Rural.

À tarde, na visita que fizemos à escola rural da comunidade, ouvimos de Vianete, assistente administrativa da escola, o incentivo de que as e os adolescentes se dedicassem aos estudos. Disse que ainda que as e os jovens não quisessem se dedicar à agricultura como, o fizeram seus familiares, conhecer bem a experiência do que é ser agricultor é algo do que esses jovens não deveriam se esquivar.

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(Participante do Projeto Patrimônio Para Todos 2012/Aratuba)
Postado por Victero Bruno.

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